segunda-feira, 4 de novembro de 2019

A emergência do coletivo para um futuro possível

A relativização e a falta de consciência de certos eventos da história se ampliam também aos desastres ambientais que vivemos, isso parece ser uma tendência cada vez mais comum, como resposta a um receio, ansiedade de encarar e se planejar para um futuro que tenha a continuidade e as consequências de tais coisas relativizadas. Assim contrastando com o tempo do imediatismo, temos os processos da natureza, que seguem um desenrolar mais lento, que projeta a concretização das consequências do mal-uso dos seus recursos para um futuro. Nisso, parece que se torna cada vez mais emergente a conciliação do tempo da vivência humana – do imediato – com o tempo mais lento, mas que vem se alterando de modo gradativo, a fim de se refletir melhor em possibilidades de ação no hoje para garantir possibilidades de futuro.  
Em seu texto “O que é o contemporâneo”, Giorgio Agamben defende a ideia de que somos o elemento passageiro enquanto a natureza é o permanente, em razão de nosso tempo de existência em relação a ela ser mais finito. Partindo disso, percebemos que apesar de tal definição a natureza dá sinais cada vez mais retumbantes de que a ação humana sobre ela pode mudar tal permanência, a limitando a uma vida mais curta. Essa ação do sujeito sobre a natureza impõe uma nova situação historiográfica, no sentido da necessidade de pensar o futuro além do humano. Este que, por sua vez, se tona um agente geológico, dotado de força capaz de mudar e comprometer o destino da humanidade no futuro; em uma era na qual, por parte de alguns cientistas, atribui-se o nome de Antroproceno. É sobre isso que Dipesh Chakrabarth se atém em seu texto “O clima da História: Quatro Teses”. 
Visando pensar possibilidades para um futuro percebemos que mais do nunca, se torna necessário recorrer a outros tipos de conhecimentos, como o do povo indígena, que possui a consciência do espaço ambiental justamente por estar nele e conhece-lo, não o tendo como um elemento mercantilizado que proporciona o lucro. É esse estar em contato com o meio ambiente - que aliás é uma experiência até mesmo atípica para os moradores dos grandes centros urbanos -  faz desde acompanhar o processo de desenvolvimento de uma planta, até a ação de uma praga sobre ela, que possibilita, de certo modo o desenvolvimento da empatia com esse local, à medida que viabiliza a vivência com esses processos naturais, de um tempo mais lento, viabilizando assim tanto uma valorização, quanto uma preservação. 
A nova situação historiográfica, possui como característica, como defende Chakrabarth: o fim da velha distinção humanista entre história natural e história humana, distinção está que considera que a história natural só possui uma história ao passo que os sujeitos criassem uma narrativa para ela. Porém, hoje esse sujeito, como já dito anteriormente, é um agente geológico, dotado de força geológica de transformação. Nesse contexto, o meio ambiente se apresente muito além de um plano de fundo para ação do homem, à medida  que a ação do homem sobre ela, como uma força, torna necessária a todos  pensar novas formas de estar no mundo, já que as condições essenciais de existência, como a estabilidade climática, o desaparecimento de espécies animais e também vegetais, o esgotamento de água doce, dentre outros se apresentam como fator preocupante, comum a todos, de possibilidade de construir narrativas futuras. Portanto, a emergência de se pensar um “nós” coletivo, como defende Chakrarabarth, não em um sentido de identificação comum, mas partindo da diferença que também compõe esse “nós”, como possibilidade de projetar futuros possíveis de permeância a todas as espécies é imprescindível.

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