Ailton Krenak
inicia o livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, convidando para uma reflexão
sobre o processo de colonização. Esse processo, que possui a dimensão
territorial, conta com a colonização do imaginário, uma vez que legitimou a
dominação de vários grupos sociais com o discurso de estar levando
esclarecimento à mentalidades atrasadas/obscurecidas.
Nesse livro, o
líder indígena chama atenção para o fato de que os processos de criação e
invenções, desdobramentos da própria existência e da liberdade, estarem
nublados no que considera servidão voluntário; isto é, ao estilo de vida que
temos hoje em dia, que possui a face de livre arbítrio, mas que responde aos
estímulos de uma macro-política que organiza nossas experiências neste mundo,
por meio de uma narrativa globalizante e superficial, pautada na razão. O
modelo de progresso, propõem, na verdade, uma abstração civilizatória, que é
fundamentada na negligencia de pluralidades, tornando todos os indivíduos
iguais. Ao contrário das organicidades indígenas.
Diante desse
cenário, faltam perspectivas diante das crises e que não possibilita
enxergarmos o que está faltando. A falta de experiência enquanto comunidade
(comum-unidade) é suprida pelo consumo e que está diretamente ligada à crise
ambiental planetária. Nosso tempo, portanto, é marcado por um tempo de
ausências.
Ausências
essas que influenciam diretamente para os sentimentos de intolerância, com
povos que possuem outros tipos de organizações sociais, como no caso de Ailton,
os Krenak. Ausências que são supridas pelo estímulo de sensação de fim de
mundo, desestimulando a possibilidade de sonhar, que é enxergada como uma
possibilidade de manter a energia para seguir caminhos e outras construções.
Entretanto,
existem caminhos a serem seguidos. O fim do mundo talvez seja o fim desse mundo
racializado e heterogêneo, por talvez tenha esteja sendo enxergado como sem
soluções, uma vez que nosso imaginário é colonizado. Mas para possibilitar
sonhar, Ailton diz que é preciso ouvir histórias, daqueles grupos onde a visão
de fim poderia estar presente mas que foi adiada diariamente com muita
resistência.
A partir de
uma mobilização comunitária, o movimento “Deixa a onça beber água limpa”, por
exemplo, busca a reconfiguração socioeconômica e ambiental da região do Ribeiro
de Abreu, localizada no norte/nordeste de BH, reivindicando a organização
dinâmica do espaço. Depois da desocupação por conta dos riscos de alagamento
muitas casas saíram e decidiram criar um parque ciliar para que não houvesse
chances de reocupação. O movimento acontece com apoio do COMUNPRA, em apoio aos
âmbitos de poder público para a recuperação das águas.
O tempo atual
consome nossas subjetividades a medida que impede estarmos em movimento para a
superação de crises, que envolve a liberdade para inventar, respeitando as diferenças
que cada um possui e a possibilidade de nos atrairmos pelo não igual.
A
homogeneidade tira a alegria de viver.
Ailton convida
a repensar que o deslocamento retira o sentido, que nesse caso, é a retirada da
zona de conforto com a cultura dominante estava inserida. Mas enxerga também
uma possibilidade de despertar para outra consciência, entrando em comunhão com
a Terra, uma vez que esses impactos atingem a todos de forma transversal. Nesse
sentido, parte também de uma necessidade de entender as necessidades do próprio
meio ambiente, onde as relações de hierarquização também são refletida.
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