sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Breve reflexão sobre o texto de Ewa Domanska


O texto da historiadora polonesa Ewa Domanska traz alguns questionamentos importantes para o campo da Teoria da História, pensando especificamente no futuro desse ambiente intelectual. O que chama atenção no argumento central da autora, é sem dúvidas se arriscar em projetar um novo campo semântico de questionamento ao humanismo, este traduzido em sua análise como o antropocentrismo iluminista que está presente até hoje dentro das ciências humanas, sobretudo impulsionado pelas teorias construtivistas e da modernidade no século XX pautada principalmente no campo da História por uma inteligibilidade centrada no aspecto racional da historiografia, presente desde a perspectiva historicista do dezenove. Desse modo, pontua bem sua crítica às ciências humanas gozarem de uma atitude antropocêntrica desde sua configuração.
A proposição de transformar o pos-humanismo(pós-humanidades) em um campo da história também dos não-humanos ainda hesita em problemas teóricos – universalismo- que outrora foram criticados e abandonados com a crítica pós-colonial por muitos historiadores, centrada na relação local. A autora reconhece que a saída para um futuro orientado possível para teoria da história passa pela percepção de que “tornando-se” além-humano a partir da evolução técnica com suas interações interespécies e seres inanimados, a História deveria transformar sua percepção que parece ser mais idealista.
Entretanto, é problemático essa aposta nos “deveres universais da humanidade salvar o planeta” sem fundamentar uma crítica seminal ao capitalismo financeiro/industrial que desde o século XX impulsionou as transformações “identitárias além-humanas”, e consequentemente, a destruição em massa das outras espécies, inclusive a espécie humana.
É importante nos atermos à preocupação ambiental dentro do campo da história como debate que busca dar sentido as mudanças tão rápidas do nosso tempo, que nos colocam cada vez mais em contato com uma existência não-humana incessantemente, seja através da bioteconologia ou das tecnologias da informação que impactam dialeticamente o que nos define socialmente na nossa relação com os objetos que agem e modificam nossa percepção sobre a História. Desse modo é positivo a epistemologia relacional presente em Latour exposta por Domanska, no qual a autora se debruça para defender uma flexibilização do objeto para ser possível uma história não-atropocêntrica. Isso nos oferece possibilidades de expandirmos uma percepção menos capitalista sobre o que é e qual a importância da sustentabilidade, a necessidade de preservação de outros seres vivos através de um paradigma descentrado da “história do homem no tempo”.

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