O
texto da historiadora polonesa Ewa Domanska traz alguns questionamentos
importantes para o campo da Teoria da História, pensando especificamente no futuro
desse ambiente intelectual. O que chama atenção no argumento central da autora,
é sem dúvidas se arriscar em projetar um novo campo semântico de questionamento
ao humanismo, este traduzido em sua análise como o antropocentrismo iluminista
que está presente até hoje dentro das ciências humanas, sobretudo impulsionado
pelas teorias construtivistas e da modernidade no século XX pautada
principalmente no campo da História por uma inteligibilidade centrada no
aspecto racional da historiografia, presente desde a perspectiva historicista
do dezenove. Desse modo, pontua bem sua crítica às ciências humanas gozarem de
uma atitude antropocêntrica desde sua configuração.
A
proposição de transformar o pos-humanismo(pós-humanidades) em um campo da
história também dos não-humanos ainda hesita em problemas teóricos –
universalismo- que outrora foram criticados e abandonados com a crítica
pós-colonial por muitos historiadores, centrada na relação local. A autora
reconhece que a saída para um futuro orientado possível para teoria da história
passa pela percepção de que “tornando-se” além-humano a partir da evolução
técnica com suas interações interespécies e seres inanimados, a História
deveria transformar sua percepção que parece ser mais idealista.
Entretanto,
é problemático essa aposta nos “deveres universais da humanidade salvar o
planeta” sem fundamentar uma crítica seminal ao capitalismo financeiro/industrial
que desde o século XX impulsionou as transformações “identitárias além-humanas”,
e consequentemente, a destruição em massa das outras espécies, inclusive a
espécie humana.
É
importante nos atermos à preocupação ambiental dentro do campo da história como
debate que busca dar sentido as mudanças tão rápidas do nosso tempo, que nos
colocam cada vez mais em contato com uma existência não-humana incessantemente,
seja através da bioteconologia ou das tecnologias da informação que impactam
dialeticamente o que nos define socialmente na nossa relação com os objetos que
agem e modificam nossa percepção sobre a História. Desse modo é positivo a epistemologia
relacional presente em Latour exposta por Domanska, no qual a autora se debruça
para defender uma flexibilização do objeto para ser possível uma história não-atropocêntrica.
Isso nos oferece possibilidades de expandirmos uma percepção menos capitalista
sobre o que é e qual a importância da sustentabilidade, a necessidade de preservação
de outros seres vivos através de um paradigma descentrado da “história do homem
no tempo”.
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