quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Sem feminismo não há agroecologia




As pautas sobre mudanças climáticas e/ou catástrofes ambientais cada vez mais estão ocupando lugares centrais nos noticiários. Seja por conta das queimadas na Amazônia, no óleo que tem se espalhado pelo litoral brasileiro e os rompimentos das barragens, por exemplo. Aprofundando sobre isso e relacionando com as discussões acerca do Antropoceno, Eva Domanski aborda algumas questões para entender como esse elo tem sido criado com a pauta: problematizando os limites das identidades de espécies, as relações entre o ser humano com o não-humano e as questões de biopoder, biopolítica e biotecnologia, o que permite ampliar esse panorama acerca as novas situações e os fenômenos que a tecnologia criou.
Durante o texto, é feito um convite a todo instante para repensar as formas pelas quais a escrita das Ciências Humanas estão sendas feitas, principalmente pela urgência para sobrevivência dos seres humanos. Diante de todos os exemplos que ela traz, e que podem servir de base para a formulação de novos métodos de pesquisa, me peguei pensando: a reformulação de uma escrita da história passa também por uma reformulação do modo como nos relacionamos com o agora, com esse devir. Talvez seja por conta de ela diz que ser historiador perpassa uma dimensão existencial! Pode ser que seja a confluência de como venho enxergando o mundo e que imprimiu sobre minha leitura uma necessidade de desmontar hábitos que o Ocidente pregou em nós.

Me veio a questão da agroecologia e o feminismo. A caça às bruxas, por exemplo, foi um momento onde toda uma relação com a natureza que era estabelecida pelas mulheres foi rompida. Existia um saber – que ainda resiste! – em relação as ervas para doenças e bem-estar, por exemplo, que foi silenciado. Além de romper com uma relação do cotidiano e o estabelecimento de um regime propriamente patriarcal, a morte de milhares de mulheres que eram vistas como bruxas, trouxe à tona um modo de relacionamento com a natureza que produz que parte da centralidade dos seres humanos e que, frente ao antropoceno, culmina em diversas mudanças ambientais.  

Transgredir, portanto, a fronteira disciplinar tradicional também faz com que pensemos em um legado que o Ocidente projeta em nós, que atinge nossas dimensões inconsciente e, por consequência, nosso modo de existir nesse mundo. Repensar essa escrita está numa linha tênue que precisa ser tencionada sobre como vivemos, como essas formas de opressão negligenciam saberes, sistematiza hierarquias com a natureza e silencia diversos atores. Movimentos que questionam essa ordem vigente, mostram como existe outras formas de circulação nesse mundo e que ele pode ser plural por meio de narrativas negligenciadas. Pensar em agroecologia e feminismo, por exemplo, pode trazer à tona toda uma opressão que foi estabelecida de diversas formas e que rompeu com um espaço onde era majoritamente de protagonismo feminino e de importância.




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