Como
mostra Svetlana Boym, em seu texto Mal-estar na nostalgia, o sentimento nostálgico
não se coloca como manifestação de uma condição meramente individual, mas sim
como um sintoma característico de nossa época. De certa forma, a nostalgia se
expressa como uma espécie de emoção histórica, transcendendo o espaço da doença
individual e assumindo com isso uma dimensão coletiva. Num sentido mais amplo,
ela poderia ser definida como um sentimento de perda e deslocamento que paira
sobre uma fascinação com a própria fantasia. Nesse sentido, a sensação
nostálgica não seria apenas a expressão de uma saudade local, mas resultado do
sentimento de anseio por um tempo diferente, que expressa uma nova compreensão
do tempo e do espaço.
Dentro
do sentimento nostálgico há, portanto, uma revolta contra a ideia moderna de
tempo. Ao se confrontar com essa dimensão irreversível, o nostálgico deseja o
que não existe mais em um presente que está em transformação. Esse sentimento,
que não se restringe ao plano da consciência individual, passa a produzir visões
subjetivas resultantes desse processo de angústia que tende a se expandir não
só para os domínios do campo histórico e cotidiano, mas também para os domínios
da política. A expansão desse sentimento nostálgico para os campos políticos
expressa a natureza paradoxal da nostalgia moderna.
O
que ocorre aqui é uma substituição do pensamento crítico por laços emocionais, onde
a nostalgia acaba sendo apropriada por ideologias externas que passam a
utilizar desse sentimento de forma irrefletida. Com isso, as disputas políticas
passam a utilizar esse anseio por uma memória coletiva para esconder as
tendências fundamentalistas de seus discursos. Assim, por de trás de um surto
nostálgico, manifestado pelo senso de perda não limitado a história pessoal, há
uma apropriação das ideologias políticas, que fazem o uso retórico do sentimento
de perda para proporem um retorno dos valores universais como uma tentativa de
restauração do passado.
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