“Nostalgia | s.f.
(Francês nostalgie, do grego nóstos, -ou, regresso a casa, viagem + grego álgos, -ous, dor)
Substantivo feminino
1. Tristeza profunda causada por saudades do afastamento da pátria ou da terra natal.
2. Estado melancólico causado pela falta de algo ou de alguém.
”
Temporalidade,
aceleração, realidades. Conceitos indispensáveis para o estudo de todas as questões
que permeiam o campo da História e da Teoria. Concepções que dizem respeito
sobre quem somos, o que somos e onde estamos. Nessa relação entre memória,
identidade e tempo, a nostalgia aparece como um sintoma contemporâneo,
caracterizando-se não apenas como uma emoção histórica, mas também como uma “tristeza
profunda causada por um afastamento” ou um “estado melancólico causado pela
falta”.
Svetlana
Boym, em seu texto, “Mal-estar da
Nostalgia”, propõe uma reformulação do conceito de Nostalgia, que se
diferencia intrigantemente da definição proposta pelo dicionário, além de
propor também uma relação de tal abstração com a política.
Durante o
século XVII e XIX, a nostalgia era tida como uma doença de cunho patológico e,
por esse motivo, nunca foi vista como uma doença histórica e crônica. Nesse
sentido, tal percepção ganha espaço a partir do processo de aceleração, ganhando,
por consequência, uma nova definição.
A
modernidade, por mais que se constituísse em um movimento que caminhasse linearmente
para o progresso e para o futuro, sempre foi acompanhada também de diferentes opiniões
e críticas, pelos sentimentos difusos que são indissolúveis à modernidade. A
nostalgia, então, torna-se um desses anseios modernos, uma pretensão por um
tempo diferente.
Dessa
forma, adquire a definição de um sentimento de perda e de deslocamento, de um
certo tipo de fascínio com uma fantasia que é criada individualmente e
coletivamente, estabelecendo uma relação direta com a memória e com a
temporalidade em que está inserida. De certa maneira, a nostalgia também é uma
forma de contraposição à aceleração, uma vez que, a partir dela, busca-se a
aproximação com um tempo em que as coisas eram mais lentas ou ainda, se constituíam
com uma genuinidade intocável.
Contemporaneamente,
a nostalgia conta ainda com a adição de uma artificialidade, produzida
sobretudo, com o advento da internet e da tecnologia. A todo momento, cria-se
uma simulação que tem como consequência a alteração da realidade, de um aumento
do imaginário e que evidencia uma certa “disneyficação”, bem como propõe
Andreas Huyssen, colocada pelo autor como forma de entretenimento, como um
processo inserido dentro da lógica do capitalismo e mais perigoso que isso,
associadas à política como forma de viabilização de formas de governo, muitas
vezes autoritárias. As crises dos governos na América Latina compõem a série de
exemplos contemporâneos e a retomada de uma nostalgia política, alude a
situação do Brasil, feita principalmente, a partir do recalque e da volta de
memórias a respeito do período ditatorial.
A todo
momento, esses acontecimentos evidenciam certa desorganização temporal e,
acrescidos do papel das mídias, o passado, principalmente, é transformado pela
indústria, fazendo refletir um certo medo de uma saudade e de um tempo anterior
ao nosso, e que ao passar por todos esses processos, é alterado de modo a mudar
sua própria veracidade, produzindo consequências no futuro.
Ao entender
todos esses processos, torna-se necessário entender também as formas de
lembranças, as formas de esquecimentos, os meios de negação e silenciamento, os
recalques trazidos pelo trauma e ainda, os movimentos em direção ao passado e
também ao futuro. É compreender a ambivalência existente entre o pertencimento,
a saudade e as contradições da própria modernidade.
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