sábado, 23 de novembro de 2019

Patrimônio Cultural e Nostalgia

Nossas ações cotidianas são orientadas a partir de uma certa movimentação entre passados, presentes e futuro, porém esta movimentação depende menos da nossas vontades individuais e até mesmo coletivas. Ela é determinada por uma certa atmosfera sentimental. Boym traz a nostalgia como o sentimento de movimentação contemporânea, sentimento este que reflete diretamente nos espaços patrimoniais e museais. Há um interesse crescente nos últimos anos nestes espaços. O desejo e o querer, despertados a partir dessa nostalgia, nos faz procurar meios de experimentar realidades de passados distintas das atuais. Gumbrecht justifica essa ação por um "fascínio" em relação a outras realidades, Derrida traz a ideia de uma "arqueologia impossível da nostalgia", que seria o "desejo doloroso de retorno à origem autêntica e singular" (DERRIDA, 2001, 110).
Porém esse sentimento de nostalgia não é coisa dos séculos XX e XXI, já no século XIX já podemos perceber essa tendência em patrimonializar e procurar algo no passado para o presente. Essa movimentação fica clara quando falamos de teoria do restauro e em teóricos como Viollet Le Duc, para o arquiteto um edifício deveria ser restaurado a sua forma original, mesmo que esta nunca tenha existido. Essa forma original seria então a busca por um completude autêntica no passado. Atualmente continuamos buscando algo no passado ou algo de passado que possa preencher algo que nos falta. O patrimônio quando visto como objeto de desejo e consumo reflete essa movimentação, buscamos algo que possa suprir a necessidade de representação e identidade na realidade na qual vivemos a partir de uma realidade da qual viemos. Essas realidades de confundem e se ressignificam constantemente. O patrimônio cultural torna-se então uma alegoria disto, ele é o que "estava lá" no passado e que esta aqui hoje, extrapola as barreiras temporais com as quais não podemos lidar - não podemos voltar ao passado, nem avançar ao futuro. Talvez essa movimentação e a necessidade de preservação atue como um ato compensatório ou de justiça em relação aos passados e suas vozes, mas também em relação ao presente e suas necessidades.

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