quinta-feira, 14 de novembro de 2019

As (In) acessibilidades da historiografia


Teoria, método e rigor. Ferramentas indispensáveis para a historiografia, formadoras dos pilares da fundamentação científica que é tão característica do historiador. Mas afinal, o que faz um historiador? Faz a própria história, ou é responsável por escrevê-la apenas? 

Michel de Certeau, em seu texto “Operação Historiográfica” faz uma análise deste lugar social do historiador, buscando elucidar algumas destas questões que pairam no ar sobre nossa profissão. Ele discorre, principalmente sobre esta nossa formação metodológica.

O historiador possui esse não-dito formado pelo lugar, a temporalidade, as formas do discurso, nessa teorização e interpretação inconsciente que faz ao longo de sua escrita. Esse lugar social do historiador não é exclusivamente uma instituição acadêmica, por exemplo. Trata-se da comunidade de pesquisadores, a profissão, formando uma particularidade.
 

Em nossa formação somos ensinados a pensar teoricamente como historiador, a agir metodologicamente como historiador e a escrever como historiador, onde estudamos, por exemplo, sobre o Tempo e sobre a alteridade das fontes. Aprendemos a não cometer anacronismos e a sermos críticos, onde o que nos guia é esse conjunto entre a teoria, a metodologia e a escrita da história. O que nos permite a qualquer hora escrever uma história é o fato de que aprendemos a pensar historiograficamente, teorizando e agindo metodologicamente, pois fomos moldados a pensar e fazer relacionados ao método histórico.
  
Mas, em algumas ocasiões indago-me até que ponto esta formação nos limita enquanto agentes deste meio social, uma vez que, majoritariamente escrevemos para a academia. É minoria absoluta os textos historiográficos que têm fundamentação teórica e, ao mesmo tempo, se preocupa em se fazer entender em meio aos academicamente leigos. É nesse cenário de distanciamento entre a academia e a sociedade que abre-se espaço para essa explosão de “história-estéticas” feitas, muitas vezes, sem qualquer compromisso com a veracidade dos fatos.


Como podemos produzir conhecimento e ao mesmo tempo este ser inacessível a uma grande camada da sociedade? Qual o sentido em produzir conhecimentos de um jeito que a sociedade quase não consome? Seria essa a abordagem da política direita brasileira, fazer-se entender, mesmo que sem fundamentação teórica? Qual o papel do historiador neste fazer-se entender popular? Tais questionamentos me vêm a mente em uma tentativa de pensar em soluções para esta nova realidade social.

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