O
discurso da deputada Benedita da Silva (PT-RJ)[1] em denúncia à ação do
deputado Coronel Tadeu (PSL-SP)[2] marcou a câmara dos
deputados no dia dezenove de novembro. O deputado havia destruído a placa
encomendada em comemoração do Dia da Consciência Negra. Em repúdio, a deputada
emocionou os presentes com seu discurso cujo conteúdo revela os passados que
não cansam de retornar. Esses passados são trazidos à tona pela ação do
deputado que, ao vandalizar um objeto de curadoria pública cuja mensagem
consistia numa denúncia dos negros e negras assassinados neste país, revira a
história e, no presente à sua maneira, violenta a população negra brasileira
mais uma vez.
A fala da deputada reforça a relação
entre passado e presente, sem desconsiderar sua distância e a transformação das
situações. “Nós fomos para o tronco hoje”, afirma. A violência contra a
população negra é o elo entre o passado e o presente, porém um não é sobreposto
ao outro de maneira leviana. A deputada prossegue “saiba deputado [Coronel
Tadeu] que não existe em nós nenhum ódio, nós só queremos o nosso direito e
buscamos esse direito dentro de um processo democrático.”. Podemos relacionar
sua fala à nostalgia reflexiva formulada por Svetlana Boym. Para ela, a
nostalgia reflexiva “não repousa sobre a recuperação daquilo que se percebe
como a verdade absoluta, mas com a consideração sobre a história e a passagem
do tempo”. (P. 160). O ímpeto reflexivo mostra-se mais uma vez quando a
deputada afirma “minha raça sofreu no tronco e continua sofrendo quando você
[deputado Coronel Tadeu] vota alguma coisa contra o interesse dos negros e das
negras.”. As falas de Benedita da Silva recuperam um aspecto do passado,
fragmentado, e o reconfiguram criticamente com os dados do presente, de forma
que encontramos em seu discurso o compromisso com a história.
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