sábado, 23 de novembro de 2019

Futuros presentes da pós modernidade



Em "Passados presentes, mídia, política e amnésia" Hyussen explora o interesse dos meios midiáticos ocidentais na produção de narrativas sobre o passado. O autor destaca que a memória ocidental tem se relacionado de maneira muito intensa com lembranças traumáticas nos seus processos de constituição do entendimento de categorias essenciais ao existir humano como o tempo e o espaço. Esse fenômeno, intensificado cada vez mais com o avançar das investidas dos movimentos epistêmicos do sul, da teoria queer, dos feminismos, dos movimentos lgbt produz narrativas e decisões políticas importantíssimas, que muito tem contribuído no embate decolonial. A abertura vinda daquilo que se convencionou chamar de pós modernidade, é, no entanto ambígua, como lembra Stuart Hall. A complexividade desse movimento fica explícita quando pensamos a apropriação que a o mercado midíatico tem feito dessa alteração na percepção temporal do ocidente. Produtos são diariamente produzidos visando o lucro não apenas de memórias fabricadas, mas também dos futuros que esse lembrar fabrica. O anseio moderno pelo avanço, como destaca o autor, foi substituído por intenso namoro pelo passado. A frustração das modernas filosofias de tempo conduziu-nos a um estado de horror ao momento presente e de atemorização pelo que está a frente. O nosso fim já é eminente, e segundo os recentes estudos climatológicos já nasceu a geração que enfrentará uma crise imensa de recursos naturais essenciais a vida humana na terra. Feita essa breve contextualização, gostaria de explorar uma propraganda lançada em 2018 pela Mistubish ao anunciar seu mais recente carro o "apocalipse". No vídeo, um cenário de total colapso da realidade material é construído, mas, estranhamente todos os personagens encontram-se com enormes sorrisos enquanto invadem museus e disputam no braço passados materializados nas pinturas. De repente aparece o imponente e poderoso carro, que salva seu dono de todas as possíveis dificuldades advindas do fim do mundo. A propaganda me lembrou muito o texto de Hyussen pois nos leva a refletir a forma da narrativa midiática/publicitária e seu impacto. Até mesmo o fim do mundo, um "passado presente" pode  assumir uma presença festiva e que impulsione o consumo. Isso parece demonstrar o quanto esse tipo de representação não se preocupa  em retratar a realidade histórica em todas as suas nuances, o quão incapaz de expressar todo o dilema existencial humano ela é. O que está em jogo nessa experiência estética realciona-se muito mais com um caráter lúdico e mercadológico.

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