quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Memória: um tipo de lembrança ou uma forma de esquecimento?




A cada dia que passa estamos cada vez mais introduzidos em um mundo que é notoriamente e crescentemente mais tecnológico. Se na Modernidade, o progresso já era considerado como a maior forma de projeção do futuro já feita, hoje, estamos passando por um processo que abarca uma tecnologia jamais imaginada, mas que, ao mesmo tempo, nos deixa completamente instáveis e desestabilizados temporalmente. Não há mais, hoje, algo que nos prenda de fato no tempo e na cronologia que estamos inseridos.
Pensar a nossa existência dentro desse processo desequilibrado envolve também a criação de formas que, de certa forma, nos ancorem dentro de toda essa instabilidade. E se de fato, estamos sendo empurrados para um futuro cada vez mais distante e diferente de nós, estamos recorrendo ao passado como forma de busca por um resgate, por um equilíbrio e por certa segurança na construção de quem somos nós e ao que pertencemos.
Nesse sentido, se reconhecer dentro de um tempo e de um período que já passou envolve também as formas de acesso ao passado. Andreas Huyssem, em “Seduzidos pela Memória”, trabalha essa instabilidade temporal a partir do uso da memória e do passado, em relação aos fatores que nos cercam no presente: a mídia e a política.
Dentro disso, a relação que o autor estabelece é de um constante paradoxo. Ao mesmo tempo que temos um passado cada vez mais disponível para nós através das mídias como tentativas de estabilidade no presente, estamos também inseridos em um espiral que nos joga cada vez mais para o futuro, forjando o nosso próprio esquecimento.
Não se trata, no entanto, apenas das memórias individuais, mas as formas de rememorações coletivas. A chamada “cultura da memória” é um dos rastros do impacto da nova mídia, principalmente no que toca na percepção e na sensibilidade humana. Quais seriam as memórias que hoje, nos serviriam de conforto? As memórias seriam feitas a partir de uma experiência satisfatória ou fabricadas a partir de traumas presentes nas nossas sociedades? Se a nossa própria concepção de tempo está sendo renegociado através desse fenômeno memorialístico, quais devem ser as nossas preocupações ao recorrermos ao passado como forma de equilíbrio?
A partir do momento que entendemos que todas as formas de memória são construídas a partir de uma realidade vivida, entendemos também o quão humana ela é. E, por mais que caminhemos para um futuro cada vez inserido no ciberespaço, essa tecnologia por si só não é suficiente para garantir as nossas memórias e o nosso pertencimento dentro dessa escala temporal em que estamos inseridos, uma vez que “[...] a memória é sempre transitória, notoriamente não confiável e passível de esquecimento; em suma, ela é humana e social.” P. 37. Na era da confirmação do high-tech, há também certo questionamento da persistência da memória. 

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