Imagem: Selfie em Espelho Hex, de Anish KAPOOR. |
A
monstruosidade do acontecimento trazida por Nora (1995), fabricada pelas mídias de comunicação
de massa atendendo a um sistema que busca a produção constante e acelerada do
novo, do sensacional, remete à discussão de Byung-chul Han (2018) em relação ao
homo digitalis. O filósofo sul coreano alude ao termo homo electronicus,
proposto por McLuhan (1978), atualizando-o para a contemporaneidade
hiperconectada, por isso o digitalis. Esse indivíduo, habitante digital
da rede, não tem a capacidade de organizar-se em massa, adequando-se a um novo
modelo especial de aglomeração, o enxame. São seres voláteis, como os animais
que organizam-se em enxames, e apontam para um paradigma efêmero. Enquanto que
a massa apresenta um espírito comum, uma topologia organizada, o enxame digital
é caracterizado pela individualidade: a subjetividade de cada usuário destaca-se.
Enquanto que os indivíduos organizados em massa marcham, o enxame digital
dissolve-se. Não há, para Han, um espaço do agir em conjunto no universo
digital, não há solidariedade.
A
perspectiva do mundo digital de Han liga-se à de Nora em relação ao
acontecimento monstruoso quando se pensa principalmente na necessidade da
produção de acontecimentos que rege o comportamento digital. O desejo pelo novo,
que caracteriza a existência acelerada dos sujeitos contemporâneos em que tudo
torna-se evento, não oferece espaço suficiente para uma produção de saber,
impedindo a organização e a atuação em termos práticos. O acontecimento é o
maravilhoso das sociedades democráticas, como afirma Nora, é um espetáculo. O “voyeurismo”
em torno do acontecimento esvazia-o de sentido, dificulta a sua articulação
enquanto algo revolucionário, pois não é mais portador de raridade: tornou-se
demasiadamente cotidiano. É a banalização da violência do real com pouca, ou
quase nenhuma, movimentação prática e política. A declaração da atriz Luana Piovani poderia bem ilustrar o enxame digital de Han e a banalização do acontecimento em Nora:
"Eu queria postar foto dos meus filhos e tinha que postar o negócio da Amazônia, daí eu tinha que postar os golfinhos, era o tubarão, era o Leonardo DiCaprio, era o 342, era a Paula Lavigne dentro do nosso grupo falando não sei o que. Daí tem que ir para Brasília, daí não sei o que mais, daí vamos não sei o que do gay, vamos na manifestação a favor do GLSTUVXZ [em menção à sigla LGBTQ+]. Meu Deus do céu, dá muito trabalho. Não estou conseguindo postar eu bonita de biquíni. Tem quatro coisas políticas para fazer, tem cinco pessoas me pedindo coisas absolutamente importantes e relevantes".
(Disponível em: https://emais.estadao.com.br/noticias/gente,luana-piovani-fala-sobre-critica-a-paula-lavigne-nao-me-incomodo-com-fofoquinha,70003035753. Acesso em 13 de outubro de 2019.)
"Eu queria postar foto dos meus filhos e tinha que postar o negócio da Amazônia, daí eu tinha que postar os golfinhos, era o tubarão, era o Leonardo DiCaprio, era o 342, era a Paula Lavigne dentro do nosso grupo falando não sei o que. Daí tem que ir para Brasília, daí não sei o que mais, daí vamos não sei o que do gay, vamos na manifestação a favor do GLSTUVXZ [em menção à sigla LGBTQ+]. Meu Deus do céu, dá muito trabalho. Não estou conseguindo postar eu bonita de biquíni. Tem quatro coisas políticas para fazer, tem cinco pessoas me pedindo coisas absolutamente importantes e relevantes".
(Disponível em: https://emais.estadao.com.br/noticias/gente,luana-piovani-fala-sobre-critica-a-paula-lavigne-nao-me-incomodo-com-fofoquinha,70003035753. Acesso em 13 de outubro de 2019.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário