quarta-feira, 9 de outubro de 2019

O delírio do espetáculo chamado Brasil



             O ano é 2018 e é ano eleitoral. PT aparece como culpado das desgraças brasileiras. Enquanto o Partido dos Trabalhadores encarnava o demônio (inclusive com divulgações em Facebook de supostos planos malignos para o Brasil), Jair Bolsonaro surge como o Messias (inclusive com a justificativa de seus eleitores de que o próprio nome do candidato confirmara seu envio por Deus) que tiraria o país do buraco instaurado pelo partido teoricamente e inconcebivelmente “COMUNISTA”. As redes sociais tiveram o papel fundamental na eleição de Bolsonaro como presidente da república. O lema eleitoral “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos” refletia a espetacularização – nos termos propostos por Nora – do evento supostamente ou não “histórico” que estava para acontecer. Seus opositores defendiam que a História estava sendo escrita para o regresso. Já seus apoiadores defendiam o caráter profundamente Histórico, quase revolucionário para o país.
                O fato é que o sujeito que preside este país continental mostra-se cada dia mais envolto nos delírios do espetáculo criado ao seu redor. As chamadas fake news caíram – criminosamente como apontam as últimas notícias -  nas conversas de WhatsApp e Facebook de milhões de brasileiros e brasileiras que pareciam viver o delírio de um novo tempo. Acabava-se o apocalipse promovido pelo partido anterior e começava a bonança que seria trazida pelo Messias! Respaldado por grandes redes televisivas do Brasil, Bolsonaro, sem aparecer em debates e com um plano de governo superficial, elege-se e o delírio aumenta. A espetacularização desses eventos, seja pelas fake news de WhatsApp e Facebook, seja pelo apoio – ainda que velado – de redes de informação, surge como reflexo do fato de estarmos sempre informados e sempre opinando sobre diversas situações que nos tiram a vivência plena da experiência e promovem uma expectativa delirante.
                Informação e opinião aparecem como imperativo na experiência da atualidade, porém as experiências se tornam rasas, menos críticas e o espetáculo dos eventos de nosso tempo culminam num processo de suspensão do eu-histórico, em que tudo nos é informado e o tempo já não existe enquanto experiência plena. A questão perene a nós historiadores é como lidar com este delírio, em conformidade com o tempo histórico. Feliz ou infelizmente a bonança não chegou em nosso país e não estamos vivendo em harmonia geral entre animais selvagens como apontam as cartilhas de algumas religiões.

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