domingo, 13 de outubro de 2019

"O Retorno do Fato" Pierre Nora


Hoje não é necessário um deslocamento no espaço para se chegar a uma informação, ou se submeter a dias, quem sabe meses de espera, para obtê-la, temos ela de maneira simples e direta seja pela televisão, seja pelo rádio ou pelos smartphones. Somos expostos a tantos acontecimentos, que uma desorientação se instala. Pierre Nora, ao escrever o seu texto “O retorno do fato” não vivia uma intensidade tão grande de acontecimentos como nos, contudo sua reflexão é ainda atual e se faz necessária nesse momento, no qual a democracia parece estar em xeque justamente por honra uns dos seus princípios fundamentais, ou seja,  a abertura ao debate.   
O debate é sempre algo saudável em uma democracia, contudo quando o que passa a orientar o diálogo são acontecimentos que corrompe a verdade histórica, temos instalado uma situação em que os historiadores já não possuem o monopólio do acontecimento, pois este logo que ocorre já é assimilado pelos mass media, conforme seus interesses próprios no rol, por vezes dos grandes acontecimentos da humanidade, de modo que segundo Nora, o acontecimento se apresenta ao historiador como um dado já pensado, depurado em suas proporções. Em consequência disso, o processo de elaboração e trabalho de tempo que tal profissional outrora fazia já não é de seu monopólio, mas é um exercício compartilhado por todos aqueles que sentem necessidade de compor a polifonia dos acontecimentos. 
À medida que isso ocorre, como observa Nora há por parte dos sujeitos uma participação democrática, que, contudo, não é efetiva, por haver uma mistura entre distância e intimidade, a qual ainda é um meio desses sujeitos participarem e viver a história contemporânea, mesmo que esta tenha uma multiplicidade de direções, a saber, em razão do revisionismo histórico e das fake news, que a despeito de qualquer consciência histórica promovem orientações aos indivíduos que contribui para a  desorientação. Assim, por um lado o poder enquanto, conforme o autor, é uma primeira forma do saber, contribui para promover, por outro lado, o aumento das angustia, incertezas. De maneira que a democracia entra em xeque quando parece não conseguir sustentar esse modelo de superinformação, hiperdireções, a ponto de não conseguir harmonizar isso em um plano de ação satisfatório para todos os sujeitos.  

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