domingo, 20 de outubro de 2019

As várias facetas do evento e o historiador


Provavelmente ao pensarmos sobre algum evento histórico logo nos virá a cabeça não necessariamente algo que lemos no livro, por exemplo, mas sim, um acontecimento como a queda das torres gêmeas, a qual foi maciçamente televisionada na época de sua ocorrência. Isso decorre de uma característica do modernismo e que se intensifica nos nossos dias, ou seja, a possibilidade de construção de narrativas históricas ampliada para além do historiador, graças a mídia, que permitiu o surgimento de documentários, filmes, vídeos, os quais mesclam, por vezes, visando representar um acontecimento histórico, a realidade e a ficção. Em razão, como pontua Hayden Write em seu texto “O Evento Modernista”, do evento, que fazia parte da trilogia característica do século XIX – evento, personagem, enredo- ter sido dissolvida no modernismo. 
A dissolução do evento rompe com a separação que havia entre fato e ficção, estas que são tratadas, a exemplo de certos filmes históricos, em uma mesma ordem ontológica. De modo, que em certa medida um desafio é posto a tradicional forma de narrar a história, à medida que está parece não mais possuir os elementos para abarcar a rede de significações que permeia o evento. Posto isso, temos que como White afirma as gerações atuais podem ter dificuldade em atribuir um acordo entre os significados dos eventos, ao passo que a este não só é atribuída, em uma mesma rede interpretativa o real e o imaginário, mas também a ampliação de sua difusão, profundidade em razão das mídias, fugindo, assim do domínio do historiador.  
 A falta de consciência histórica, a perda da legitimidade do historiador e os revisionismos são fatores que contribuem para potencializar o desafio a história tradicional.  Assim, a defesa de White da necessidade de estetizar o evento, parece assumir hoje uma importância singular, tendo em vista, que os meios de acessar a história hoje se amplia por canais de difusão, que dão voz a narrativas descompromissadas com a veracidade do fato, cabendo ao historiador adentrar esses espaços, objetivando, por um lado, ummaior aderência do evento histórico no entendimento dos sujeitos e por outro lado, como defende White permitir um prolongamento da existência de tais eventos na cosmovisão destes sujeitos, abrindo a possibilidade de ressignificar o futuro de forma diferente, mais responsável. 

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