terça-feira, 22 de outubro de 2019

Devaneios olhando facebook do meu tio



Por vezes fico pensando em como ser intelectual neste mundo com tantas urgências: desastres ambientais, o racismo sendo desmascarado, o sexismo denunciado e o Bolsonaro eleito. No texto “Modernidade - Sobre a semântica dos conceitos de movimento na modernidade”, de Reinhart Koselleck, o mesmo fala “a mudança da experiência, que se torna cada vez mais objeto de reflexão”. A reconfiguração do mundo se torna cada vez mais objeto de experiência, uma vez que as experiências humanas estão cada vez mais imersas em constantes mudanças. E nessas constantes mudanças, existe eu, você e o nós, nos deparando com nossas próprias mudanças que a contingência proporciona todos os dias. 
O historiador ao longo do tempo caminha com o leitor para um plano de reflexão sobre como a ideia de “novo tempo” vai se construindo e como as experiências vão, ou não, se encaixando nesse quebra cabeça em construção. Apesar de ser um texto historiográfico, com a estética de tal, enquanto lia, as interrogações do agora transverlizavam minha atenção. Pensava nas pessoas nas quais conheço e que elegeram o senhor Jair Messias Bolsonaro na crença de que esse “novo tempo” está perdido. Acreditam que seus votos seriam o início para um caminho alternativo a ser seguido. Assim como no século XVIII, em que o termo “novo tempo”, foi posto em oposição à Idade Média, o Partido Novo oxigena as possibilidades de retornar ao que o “velho tempo” propunha.”.
É engraçado como nos deparamos com as redes sociais das pessoas mais velhas da nossa família. Sempre troco ideia com meus amigos sobre algum post que algum tio ou vizinho compartilhou, por ora machista ou homofóbico, por exemplo. “Na minha época, menina era menina e menino era menino, hoje em dia os tempos são outros”, “As mulheres de hoje em dia acham que é bonito andar com o suvaco cabeludo, o mundo tá ficando doido”, são coisas que encontramos, não somente nos comentários mas também nas nossas experiências enquanto jovens, que escapam dos estereótipos ditos como tradicionais.

Ainda no texto, Koselleck aponta para um argumento de Heeren, em que existe uma exigência de que decorresse um tempo mínimo antes de adotar o conceito de “novo tempo” significou uma renúncia à ênfase na própria época. Essa renúncia hoje em dia é ensurdecedora, aclamando para um retorno aos bons costumes, para silenciar esse baralho que as manifestações que não aceitam as opressões causam. O que é contraditório, é como a renúncia ao “novo tempo” tentou ser recalcada no Partido Novo. O novo para o velho, jovens sem futuro, humanidade sem perspectiva. Um conjunto de palavras que combinadas de diferentes formas, revelam algumas faces desse presente confuso, emergente e em emergência.


Nenhum comentário:

Postar um comentário