quinta-feira, 10 de outubro de 2019

A espetacularização da mídia e o retorno do fato de Pierre Nora.



  Como parte integrante da filosofia do século XX, Pierre Nora, ao lidar com o retorno do conceito de fato e de evento, tem como problema fundamental a constituição da História contemporânea e a dúvida de quais seriam elementos capazes de ordena-la. Trata-se, portanto, da possibilidade de escrever uma História que se aproxime mais do presente e que diminua, de certa forma, as incertezas trazidas pela modernidade.
Diante de todo esse processo, Nora ainda evidencia o acréscimo de um fator fundamental: o evento e o processo de democratização da sociedade sobre ele. Nesse viés, foi possível certa abertura do debate politizado geral da vida, uma abertura da realidade de um processo universal sobre as coisas e, nesse sentido, a existência de diversas ideias e diversas opiniões presentes em uma sociedade que está inserida em um movimento que permite que todo acontecimento já nasça como histórico.
Em uma sociedade movida pela mídia que temos hoje, propiciada pelo advento da internet e principalmente pela sua democratização, contamos com uma circulação generalizada da percepção histórica. Os meios de comunicação então, passam a ser sinônimos de construção e reconstrução do passado que promovem, ao mesmo tempo, uma relação de distância e intimidade com os fatos e acontecimentos históricos.
A espetacularização da notícia fabrica o maravilhoso, que ao mesmo tempo encanta, promove um apaziguamento do conhecimento e que se traduz como um desejo de participação que é ilusória. O programa do Datena, Cidade Alerta, promovido pela emissora Band, é um exemplo claro desse processo, no qual a informação perde a sua neutralidade de simples transmissão na cultura de massa e o sensacionalismo, acaba se tornando um sinônimo de pânico social.
          O historiador do presente, inserido nesse caos, tem o trabalho de não somente analisar todos esses fatores, mas, acima de tudo, não efetuar um olhar tradicional que deixa acontecimento se impor antes mesmo de ser pensado. O acontecimento testemunha então, menos pelo que se traduz e mais pelo que revela, menos pelo que é e mais pelo que provoca. 




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