Rio
de Janeiro, pedra do Arpoador, 05 de Outubro de 2019.
Estava com um casal de amigos em
Ipanema, pegando uma praia. Aquela coisa que só o Rio proporciona: praia, mate
e biscoito globo. De quebra uma cervejinha para dar uma espairecida. E o sol na
cabeça.
O sol ia se pôr, seguimos em direção
ao Arpoador, nós três e grande parte dos banhistas que ali estavam. É como
disse, coisas que só o Rio proporciona, uma delas é assistir e aplaudir ao pôr
do sol no Arpex. A multidão que ali se reunia, se acomodava para assistir ao
espetáculo. Um drone surge do nada e começa a sobrevoar aquela região em que
estávamos, na minha cabeça, aquilo provavelmente era alguém gravando vídeos
para registros pessoais. Quando ouço, atrás de mim, vindo dum grupo de meninos
que estavam afastados do restante das pessoas, o seguinte comentário “Pô
Bolsonaro, não atira na gente aqui não”.
Eu gelei e fiquei totalmente sem
reação quando ouvi o garoto de pouco mais de 10 anos dizer isso. Pensei que,
enquanto para mim era um drone insignificante, para ele era algo ameaçador,
visto que pela sua entonação aquilo parecia ser algo frequente em sua vivência.
O que cabe aqui refletir juntamente com texto de Berber Bervenage, é a respeito
dessas vidas que são marginalizadas e são vistas como alvo o tempo todo, por
serem negros, pobres e periféricos. Por viverem em lugar que é visto como “perigoso”.
Perigoso pra quem?
Vejo esses inúmeros casos de
crianças sendo mortas com balas perdidas nessas operações truculentas e me
lembro imediatamente do que Marielle Franco publicou antes de ser executada “quantos
mais precisam morrer para essa guerra acabar? ”, pelo visto, muitos. Segundo o
G1, em 10 meses o Rio teve 6 crianças mortas por bala perdida e nenhuma resposta
às famílias. Essa violência vinda do estado mostra o quanto ainda não tivemos
uma ruptura efetiva com os moldes da ditadura, a polícia mata o tempo todo e o
Estado ajuda apertar o gatilho. Onde se encaixa a justiça nesses casos? E a
História? Como podemos pensar em justiça histórica a partir dessas milhares de
vidas que são tiradas por causa do racismo?
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