“Pensar sobre
as vítimas da injustiça histórica com seriedade” é um dos pontos centrais do livro
de Berber Bevernage, além da proposição de repensar o tempo histórico e sua
irreversibilidade. Compreender o papel do discurso histórico na mediação dos
passados violentos e autoritários perpetrados pelo Estado e o sentido e “alcance
ético” das comissões de justiça, como a própria Comissão da Verdade brasileira,
são temas latentes dentro do período de instabilidade institucional e retomada
de memórias da Ditadura Civil-Militar que experimentamos.
Bevernage coloca que
a própria noção de tempo histórico que normalmente utilizamos no trabalho como
historiador é mais coerente com a dos torturadores do que com a dos torturados.
Abordar um passado como irreversível e irrevogável vai de acordo com a ideia de
que os processos temporais acontecidos simplesmente aconteceram, e nada pode ser
feito. Uma das proposições centrais do texto se liga justamente à diferenciação
do tempo histórico de um “tempo da justiça”. Uma contraposição entre o
afastamento do passado como forma de resolução de demandas e da luta pelo
reconhecimento da permanência do mesmo, da existência do trauma nos sujeitos
afetados e da necessidade de cancelamento do efeito nocivo através do cumprimento
de uma pena.
Desta forma,
a história modernista seria uma instrumentação utilizada para o esquecimento de
eventos que não podem ser esquecidos, enquanto traumas permanecem mais
reavivados com a exaltação de torturadores por chefes de Estado com tendências
autoritárias. Compreender a talvez indistinta
separação entre passado e presente para exercer uma política de reparação que
de fato funcione é essencial, assim como a escuta dos sujeitos que passaram
pelo trauma e a ampliação de suas vozes não somente como vítimas, mas como corpus documentais da própria história.
Referências
BEVERNAGE, Berber. História, Memória e Violência de Estado: Tempo e Justiça. Editora Milfontes. Espírito Santo, 2018.
BEVERNAGE, Berber. História, Memória e Violência de Estado: Tempo e Justiça. Editora Milfontes. Espírito Santo, 2018.
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