A nostalgia é
conceituada por Svetlana Boym como o desejo por um lar que não existe mais ou
nunca existiu, um sentimento de perda e deslocamento, mas também fascinação com
a própria fantasia. Em Mal-estar na nostalgia, Boym apresenta tal
conceito colocando-o como uma emoção histórica, um sintoma contemporâneo à
própria modernidade, logo, uma compreensão coletiva de espaço e tempo que
anseia por algo diferente do que se é vivido. A nostalgia tem como parte de sua
essência a revolta contra o tempo moderno, a recusa de se render a
irreversibilidade do mesmo, logo, é um desejo de se experimentar outro tempo no
que se vive.
A angústia
criada pela impossibilidade deste desejo pode tanto se expandir para o plano
pessoal, do dia-a-dia, como no da política. Assim, Boym diferencia a nostalgia
em duas tipologias: a restauradora e a reflexiva, respectivamente nostos (casa)
e algia (anseio). A primeira
tende a se impor dentro do espaço público, apresentando o retorno às origens como
parte central, enquanto a segunda se preocupa com o tempo histórico em um âmbito
mais individual, talvez aceitando a impossibilidade de mudança do passado.
A
nostalgia restauradora vem sendo utilizada quase que como mote central de governos
com características autoritárias, como o lema “Make America great again” de
Donald Trump nos Estados Unidos (Fazer a América grande de novo, em tradução),
ou quando Jair Bolsonaro faz qualquer fala que coloca a época da ditadura
civil-militar como superior à vivida atualmente. O desejo de se restaurar o
passado, do retorno à um período de glórias e crescimento, pode fazer parte da
memória coletiva de diversos grupos que buscam tanto se impor ideologicamente como
voltar a uma época de poder aquisitivo maior e enraizamento de valores como a
pátria e a família. A nostalgia é elemento central do argumento do discurso
político na atualidade, se valendo do sentimento coletivo de perda,
característico da própria modernidade, para impor projetos de poder escusos.
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