A historiografia como uma operação localizada no tempo e no espaço
Ligar as
ideias aos lugares, esta é, em princípio, a atividade que Certeau define como sendo
o gesto do historiador. Para ele, a ação de compreender está antes de tudo
relacionada com a análise de uma produção localizada, de forma que as operações
do historiador devem ser compreendidas enquanto práticas relativas às
estruturas da sociedade. Nessa interconexão entre objeto e observador, a
história deve ser então encarada como uma operação que faz parte da realidade
da qual trata e não como um saber que existe de forma transcendente ao mundo
que o cerca.
Os atos de visualizar,
ouvir, interpretar, representar não podem senão ser compreendidos fora da atmosfera
temporal e das instituições que cercam o sujeito operante. Assim, a operação
historiográfica é, ao mesmo tempo, um resultado e um sintoma da sociedade na
qual se integra, sendo, portanto, produto de um tempo e de um lugar. O
historiador ocupa nesse processo um lugar social que será responsável por
constituir um determinado discurso sobre o passado, cujo discurso será moldado
pelas instituições de saber que o cerca.
Nesse sentido,
o saber histórico faz então parte de uma rede de elementos que se estabelecem
de forma interdependentes entre si, de modo que a história é o resultado da
combinação dinâmica desses fatores num dado momento temporal. Com isso, por
trás de uma suposta totalidade histórica, se estabelece uma multiplicidade de
filosofias individuais que carrega consigo os não-ditos, e que são encobertas
por uma instituição do saber que vai além das escolhas individuais do próprio
historiador.
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