No prefácio da obra A Operação Historiográfica, Michel de Certeau traça uma relação entre história e morte,
numa perspectiva do passado ser um objeto morto, que acaba não influenciando no
presente. Nesse caso, a historiografia tem como função separar o presente desse
passado morto; esse gesto de divisão é sempre repetido, de forma que “cada
tempo novo deu lugar a um discurso que considera morto”. No entanto, não é
totalmente correto afirmar que o passado permanece completamente morto. É
possível observar o passado não só como um corpo morto a ser estudado, mas como
um passado vivo em nosso presente, um passado que, através de diversos tipos de
manifestações, pode atuar como uma herança viva dos nossos antepassados. O
samba como um gênero musical ilustra bem a ideia de um passado vivo, onde,
segundo o historiador Luiz Antônio Simas, teria seu ritmo originário da
rítmica africana. Além disso, o samba está relacionado com a formação social e
cultural brasileira, pois, segundo Simas, faria parte de um complexo cultural
como “experiência de reconstrução da vida em comunidade” dos africanos que
foram retirados de sua terra e privados de sua cultura. Indo para além do
espectro musical, nos dias de hoje podemos nos deparar com o samba em diversas
manifestações culturais; como exemplo tem os sambas enredos presentes nos
desfiles de carnaval e as rodas de samba, que são mais comuns na cidade do Rio
de Janeiro. Ambas as manifestações são originárias dos sambas urbanos que
aconteciam na cidade do Rio, entre o final da década de 20 e o início da década
de 30. Vale lembrar também que muitas dessas manifestações tem função de
reivindicação sobre o passado, valendo citar alguns sambas de enredo de
desfiles de carnaval, como a musica Kizomba, Festa da Raça, da
escola Vila Isabel, e A Diáspora Africana, da escola Rosas de Ouro. O nosso passado,
apesar de, por um lado, ser um passado morto, por outro lado, ele ainda vive em
nosso presente, podendo estar em nossa cultura; Como o samba, que ao mesmo
tempo em que se mostra uma manifestação cultural do nosso presente, também está
diretamente ligado ao nosso passado.
Oi Thiago, tudo bem? Peço Desculpas, pois só tive a oportunidade de ver seu comentário por agora; mas agradeço a dedicação em responder a pipoca.
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